terça-feira, 30 de novembro de 2010

30 anos sem Cartola


Gênio e Samba. Duas palavras simples que expressam o significado de um codinome: Cartola. Agenor de Oliveira nasceu no Rio de Janeiro em outubro de 1908. Foi um dos fundadores da Estação Primeira e mudou-se pro morro devido à dificuldades financeiras. Foi servente de obras e lavador de carro.
Faleceu em 1980 em Jacarépagua.

'Quem gosta de homenagem póstuma é estátua. Eu quero continuar vivo e brigando pela nossa música'
(Cartola)

Uma música que eu particularmente amo:

No tom da Mangueira

Não quero mais amar a ninguém
não fui feliz o destino não quis o meu primeiro amor

Semente do amor sei que sou desde nascença, mas sem ter vida e fulgor,
eis a minha sentença
tentei pela primeira vez esse sonho vibrar
foi beijo que nasceu e morreu sem se chegar a dar.
(falado por Cartola)

Em Mangueira
Quando morre
Um poeta
Todos choram

Vivo tranqüilo em Mangueira porque
Sei que alguém há de chorar quando eu morrer

Mas o pranto em Mangueira
É tão diferente
É um pranto sem lenço
Que alegra a gente

Hei de ter um alguém pra chorar por mim
Através de um pandeiro ou de um tamborim

Em Mangueira
Quando morre
Um poeta
Todos choram

Todo tempo que eu viver
só me fascina você,
Mangueira
Guerriei na juventude, fiz por você o que pude,
Mangueira
Continuam nossas lutas, podam-se os galhos, colhem-se as frutas e outra vez se semeia
e no fim desse labor, surge outro compositor, com o mesmo sangue na veia.

Sonhava desde menino,
tinha um desejo feliz
de contar toda tua história
este sonho realizei
um dia a lira impunhei
e cantei toda tuas glória
perdoa-me a comparação, mas
fiz uma transfusão
eis que Jesus me premeia
surge outro compositor
jovem de grande valor com o mesmo sangue na veia



quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Pretérito Imperfeito


Tinha olhos mas não via gente,
só via som, melodia e a canção.
Via, sentia, sumia...
Tinha boca mas não cantava,
só comia as nuvens de chuva
e jurava que tinha gosto de frutas vermelhas.
Comia, salivava, engolia...

Tinha ouvidos mas não ouvia o silêncio,
só escutava o vácuo do quarto de dormir
que tinha a mesma cor dos olhos dele.
Ouvia, gritava, desejava...

Tinha mãos mas não colhia flores,
só acariciava, pensava e roía
as unhas porque era ansiosa por demais.

Tinha sonhos e sonhava,
acordada, dormindo, toda hora...
e sabia que sonhos são desejos,
que tem a mesma cor dos olhos, do quarto, dos sons, da chuva...

sábado, 20 de novembro de 2010

Conto sem fadas


Passou da meia noite sem sapatinho de cristal.
Maquiagem borrada, sentada na cama pensando no nada.
Sem sentido, sem sentir...
A chuva no caminho de volta ao castelo
era a mesma garoa que descia dos olhos dela.
A trança se desfez no drama da dama da noite,
ainda soluçando por não entender nada da vida.
Leu Drummond, achando que era Nietzsche.
Por não encontrar uma solução, dormiu.
Sonhou com uma escadaria e um tal sapato,
E quis que a história começasse outra vez.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

'Qualidade de ideias per capita'

Feriadão, acordei 10 da manhã. Como é bom acordar depois das 8. Queria ter ficado mais na cama, mas minha cabeça não parava de martelar.
Sentei na sala e comecei a ler o jornal. No caderno de economia do 'Globo' tem uma entrevista com Steven Johnson, um escritor americano que defende, como o próprio título da matéria, a beleza do caos.
Particularmente eu adoro essa palavra 'caos' e acho que toda a mudança gerada na vida de uma pessoa surge nesses momentos em que ninguém consegue encontrar ou decidir nada e entra em colapso consigo mesmo.
O escritor defende que é muito difícil um inventor descobrir as coisas do nada, porque as descobertas são como um longo processo de percepção da realidade, como diz Nelson Vasconcelos numa nota ao lado da imagem do entrevistado.
Isso me remete ao post da Priscila em Bazzofias della vita em que ela diz que, quando vê um filme depois de anos, o impacto causado pelo mesmo é diferente daquele quando visto pela primeira vez. Juntando as duas ideias, seria como se a percepção da realidade da Priscila tenha se modificado ao longo do tempo em que ela ficou sem ver o mesmo filme.
Voltando à entrevista, uma das perguntas, ele diz ser mais complicado ter inovações em qualquer campo se você fica isolado, por exemplo, numa ilha deserta. A não ser que nessa ilha você esteja com mais algumas pessoas. Ele defende a coletividade como uma alavanca propulsora das ideias, inovações e invenções.

'Se ter boas ideias fosse apenas uma questão de achar um local quieto pra pensar, meditar e ter grandes sacadas, a história da inovação estaria restrita a áreas rurais. As cidades são os grandes berços da inovação, não apenas pela quantidade, mas pela qualidade de ideias per capita'
(Steven Johnson)

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Ensaio sobre a música clássica.

Tem duas coisas que me fazem bem quando eu não estou muito bem: cinema e literatura.

Terça-feira fui ao shopping no intuito de assistir um filme. Desisti porque o filme que eu queria ver não batia com o horário que eu tinha livre, então fui à livraria. Não é daqueles tipos que eu gosto, que tem um café onde podemos começar a degustar o livro ali mesmo, sendo assim, comprei o dito cujo e fui pra casa.

Estava no ponto de ônibus quando comecei a ler e não parei mais até terminá-lo (fiz isso em 3 horas e meia).

Trata-se do livro "Uma paixão por cultura" de Carlos Eduardo Palleta Guedes.

Conta a história de um cara que não liga a mínima pra arte até que conhece uma estudante de jornalismo chamada Thaís [confesso que foi um dos motivos que levou a compra do mesmo]. Para entrar no mundo dela, ele precisa aprender sobre música clássica, filmes e literatura. Achei interessante o modo como o autor tratou a temática e o jeito de passar a mensagem pra um público alvo que não curte a 'alta cultura'. Numa das partes, ele dá uma introdução e conta histórias de gênios da música clássica como Bach, Bethoveen e Mozart e como e por onde começar apreciá-los. Além disso, o livro faz um caminho sobre filmes e livros imperdíveis em uma leitura que não cansa, muito pelo contrário, te prende e quando você vê, já devorou o livro todo.

Pra quem gosta de penetrar no fantástico mundo cultural é uma excelente proposta.


Obs: É bom ler o livro escutando III Allegro Scherzando - Augustin Anievas

'Depois de Bach, veio Mozart. Meus pensamentos foram muito longes enquanto me convencia que hoje seria o primeiro de muitos dias até me tornar alguém culto (pensava: '' a M.L. irá me odiar quando souber que fui a um concerto!''). Mas,ao retornar, adorei estar ali...'

Pra quem quiser comprar o livro clique aqui

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Pintura dois


Preciso pintar paredes, muros, quadros,

telas, gestos, tinta, bermudas.

Pintar faces, camas, luz,

pincel, estrelas...

Pintar gente, amor, canções,

vela, vinho, violino...

Preciso pintar sentimentos...

os mais belos, intensos, fortes, sinceros.

Preciso pintar a alma.